domingo, 2 de outubro de 2011

ÉTICA: CONVIVÊNCIA OU NECESSIDADE.?



ÉTICA: CONVENIÊNCIA OU NECESSIDADE ?
Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil.
Artigo publicado no Jornal A TARDE,
do dia 02 de outubro de 2011.
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         Se fôssemos repórteres de televisão e saíssemos pelas ruas de Salvador perguntando a cada pessoa que encontrássemos: “Segundo o seu parecer, qual o maior problema de nossa sociedade, hoje?”, o que ouviríamos?. Muitos responderiam: o maior problema é a insegurança em que vivemos; outros diriam: a falta de assistência à saúde; o desemprego; a fome; as doenças, etc. E´ possível que alguns iriam mais longe e responderiam: o nosso grande desafio é a falta de ética em nossa sociedade.
         Mas o que é ética?. Muitos podem não saber dar as definições desse termo; têm, no entanto,comportamentos éticos, exigências éticas e, particularmente, sofrem – e muito – com a falta de ética ao seu redor.
         A palavra “ética”, de origem grega, refere-se aos costumes da sociedade. Os gregos se perguntavam: O que é bom para o povo?. Acreditavam que as leis e as instituições poderiam mostrar o que é “bom”. Não demoraram muito a descobrir, porém, que esse “bom” não é sempre o mesmo para todos, em todos os lugares, e que certos valores mudam com o tempo. Mais tarde, chegaram à conclusão de que deveria haver normas de comportamento com valor permanente, que não mudariam com o tempo e lugar. Foi um grande avanço em suas reflexões.
         Ética é a teoria ou a ciência do comportamento humano na sociedade. Responde a perguntas como: o que é bem?. O que é mal.?. O que é válido?. Qual deve ser o comportamento de cada pessoa nessa ou naquela situação:. Um comportamento é ético quando tem por princípio a realização de todos, e não de apenas um grupo ou de uma minoria. No campo cristão, fala-se em moral, em moralidade. E´ o comportamento regulado pela Revelação – isto é,, pela Palavra de Deus e, de modo especial, pelo Evangelho. Síntese da ética bíblica são os dez mandamentos. Se todos, na sociedade, os observassem, saberíamos o que significa uma sociedade fraterna, pacífica e solidária.
Todos sentem que, de alguns anos para cá, os costumes da sociedade mudaram muito. Está havendo um novo modo de pensar, de agir, fora dos princípios éticos até há pouco tempo respeitados e aceitos. E´ o que se chama de “crise ética”. Pior ainda é a crise da Ética, isto é, a tendência a se considerar como “natural” essa nova situação, como se não houvesse normas para reger os atos humanos, tanto particulares como públicos.
         A crise atual está gerando duas atitudes predominantes, ambas criticáveis: de um lado, o apego ao que é tradicional, por ser tradicional, gerando o fundamentalismo. A outra atitude, mais difundida, é marcada pelo individualismo – tendência estimulada pela dinâmica da sociedade atual, que faz com que cada pessoa se coloque no centro das decisões. Cada um faz suas escolhas como se estivesse num supermercado – isto é, o critério fundamental passa a ser o gosto pessoal, na linha do “bom é que eu gosto”. As decisões deixam de ser tomadas, pois, em função de valores objetivos ou universais; predomina o: “Eu acho que...”, “eu penso que...”, “eu prefiro...”. Desaparecem a comunhão e a fraternidade; multiplicam-se “ilhas”, pois cada qual se fecha em seu mundo. Surgem pessoas inseguras e inconstantes, insatisfeitas e egocêntricas.
         Por outro lado, cresce a consciência de que é preciso tomar uma posição clara diante de certos comportamentos ou atitudes – por exemplo: diante daqueles que, ocupando um cargo de responsabilidade, guiam-se em função de seus próprios interesses, são pouco transparentes no agir, envolvem-se em corrupção oup abuso de poder, ou de legisladores, que aprovam leis que terão repercursões negativas sobre a família, a vida do nascituro ou do doente terminal, a natureza, etc.; de economistas, que aceitam como normal que a economia gere vantagens para poucos e sofrimento para a maioria, etc.
         Entende-se, pois, qual o papel da política e do político: cabe-lhes aprovar leis que regularmente nossa convivência humana, levem em conta o bem de todos e defendam os mais desprotegidos. Se isso não acontecer, prevalecerão a violência e a injustiça – sinais evidentes do fracasso de uma sociedade, no plano ético.

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